domingo, 2 de janeiro de 2011

Fátima o projecto Utópico

Há cerca de 3 anos, recordo ouvir o Arquitecto Siza Viera dizer numa conferência, que nos concursos normalmente o projecto que fica em segundo lugar é o mais interessante em termos de reflexão arquitectónica em termos teoricos, mas que tende a ser demasiado utópico para ser vencedor e por consequência construído.


Pessoalmente concordo com mestre; também penso que os concursos de arquitectura são normalmente uma faca de dois gumes.E não a salvação da Arquitectura como já ouvi alguns colegas da minha geração falarem, respeito a sua opinião, mas...


É verdade que a atribuição de um projecto através de concurso em teoria abre a porta a vários arquitectos pensarem sobre um determinado problema e dai resultam várias propostas que permitem uma visão mais abragente do problema em questão. Em segundo lugar os concursos também dão a oportunidade de arquitectos com mais ou menos renomene, idade ou experiência procurarem uma oportunidade de trabalho, e realizar obra. De uma forma geral na minha opinião pessoal são estes os aspectos positivos da atribuição de um projecto a partir de um concurso.


Por outro lado julgo que existe um outro lado, começando normalmente nos prazos e intenções do concurso, normalmente os prazos são irrealistas e não permitem um conhecimento do programa e do lugar minimamente decente, os objectivos dos concursos também julgo serem normalmente irrealistas e prejudiciais na procura de um bom projecto de arquitectura, pois um concurso que peça a definição de um projecto para além do ante-projecto, ou no máximo a escala do licenciamente. Julgo que nos concursos que pedem mais que isso, existe a exclusão quase total do diálogo entre dono de obra e Arquitecto. A arquitectura não é feita para sastifazer apenas o arquitecto mas sim e especialmente a necessidade conhecidas e desconhecidas dos próprios habitantes.


Já me alonguei um pouco sobre o assunto dos concursos, mas afinal em verdade foi uma conversa sobre concursos que me fez recordar a frase do Arquitecto Siza Viera e sobretudo este projecto do Arquitecto Gonçalo Byrne.


O projecto da recente Igreja da Santíssima Trindade em Fátima assim como a envolvente do espaço público, foi alvo de um concurso. Tal concurso e sobretudo o desenvolver de todo o processo de construção foi levantando as suas Paixões, como é natural nestes casos.


O projecto vencedor do Concurso internacional e posteriormente construído é da autoria do Arquitecto Grego Alexandros Tombazis e o projecto que ficou em segundo lugar é da autoria do Arquitecto Português Gonçalo Byrne ( em baixo deixo imagens do mesmo).


Quando vi ambos os projectos em imagens (Arquitectura não são simples imagens ou representações gráficas codificadas mas sim edifícios construídos) a minha preferência pessoal, (baseada do meu conhecimento do local tendo com base o facto de lá ir basicamente todos os anos desde que me lembro ser pessoa) foi para o projecto que ficou em segnudo lugar, mas sempre compreendi a escolha do outro projecto por ser mais fácil de construir, pelo menos em termos burocráticos pois não implicava enterrar em tunel uma via de circulação.


Mas em termos de ideia de Arquitectura e de conjunto urbano e inter-relação entre os diversos espaços públicos o projecto que ficou em segundo lugar era muito mais eficaz na unificação e agregação de diversos momentos criando uma certa ideia de pecurso iniciático poético e espiritual, ao mesmo tempo que respondia a um dos grande problemas arquitectónicos de Fátima que são os conflituos entre a Fátima do Santuário(Sagrada) e a Fátima cívil(profana) que cresceu de forma algo caótica.


Com este breve artigo não estou a dizer obviamente que o projecto vencedor não tenha qualidades e que este não tenha defeitos, esta análise geral não possui a intenção de julgar nada nem ninguém, apenas ser um convite a reflexão por um lado e a simples expressão de uma opinião por outro.


Afinal apenas a igreja do Arquitecto Tombazis pode ser chamada Arquitectura pois apenas ela construída, as imagens que deixo em baixo são simplemente imagens de um projecto, bastante úteis para os interessandos reflectirem.


Figura 1 Vista geral da Maquete


Figura 2 distintas vistas da Maquete


Figura 3 planta geral da Proposta







Figura 4 Planta da Igreja

Todas as imagens foram retiradas da revista +arquitectura 014 de junho de 2007

Ao longo dos próximos dias se tiver oportunidade irei transcrever o texto/memória descritiva que acompanha as imagens na publicação anteriormente enunciada como fonte das imagens.



Imagens retiradas pelo google imagens que mostram o corte pela Igreja em Maqueta
A igreja em planta é caracterizada por uma forma a tender para o quadrado, estando o altar relativamente centrado num do lados ( sensivelmente de frente para o altar da Basilica) O espaço do altar é marcado por um pé direito superior em relação ao restante espaço da assembleia, esse espaço é claramente visivel no exterior através da presença de um volume que é vísivel na maquete. O espaço da Assembleia parece possuir como principal característica uma iluminação natural singular atráves de um ritmo de clarabóias.






Legenda: 1-altar; 2-Assêmbleia; 3-Coro ou lugar dos sacerdotes, não tenho certeza

BOM ANO NOVO DE 2011












4 comentários:

  1. Jorge,

    Gostei muito desta tua publicação.

    Na verdade, custou-me muito a habituar à nova igreja, da Santíssima Trindade. Assisti às suas obras, lembro-me de querer estar em pleno silêncio no Santuário e ouvir constantemente aquele rumor...

    Fiquei triste, muito triste. Tinha o costume, talvez um pouco excêntrico, de me sentar junto a uma das estações da Via-Sacra (na colunata que fica do lado direito da Basílica) e dali via todo o recinto, a Capelinha, a Cruz alta e, ao fundo, no horizonte, o pôr-do-sol ao fim da tarde. Era, ao mesmo tempo,surpreendida e regalada com o chilrear de uns pardalitos que de vez em quando por mim passavam, como dádiva extremosa do Eterno Criador.

    Acontece que, com a construção da nova igreja, a paisagem ficou limitada, o horizonte montanhoso desapareceu... Ficou confinado a um espaço limitado esse percurso poético e espititual a que dantes se assistia...

    Outro aspecto a salientar (é a minha opinião): a Jerusalém Celeste, no livro do Apocalipse - se não estou em erro -, é descrita como sendo rectangular (não redonda)... O ser redonda lembra o Coliseu e os teatros romanos e gregos...

    Gostaria, muito sinceramente, que tivesse ganho o projecto do arquitecto português Gonçalo Byrne...

    Não percebi muito bem a planta da igreja. Paciência, contentei-me com a vista geral...

    Obrigada por este tão interessante post e por partilhares esses teus conhecimentos. Desconhecia por completo o tal projecto aqui exposto.


    Um abraço em Cristo

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  2. Mariam ( aqui acho melhor continuares a ser Mariam=))

    Sabes aquilo de que eu também sinto falta quando vou a Fátima e da ideia de Horizonte que o novo projecto quebrou, é verdade que mesmo antes já existia a estrada com o seu ruído visual que incomodava, mas não era uma barreira como a nova igreja.
    Sobre a jerusalém celeste e o próprio templo de Salomão possuem como base a ideia do rectângulo de ouro.
    A planta da igreja é um pouco de dificil leitura devido a alguns aspectos de representaçao gráfica. Bem o edifício é em grande medida enterrado ou pelo menos a sua cobertura torna-se de certo modo a continuação da praça do Santuário, a planta da igreja em si mesmo é sensivelmente um quadrado o espaço mais central de todos, sendo que a posição e a distribuição dos espaços é algo semelhante à igreja actual, entrada volta para o lado da praça, em primeiro lugar aparecem as capelas masi pequenas, depois existe uma especie de sistema de circulação em redor da igreja onde vão aparecendo funções de apoio como instalações sanitárias e afins e na parte final estão concentrados os espaços de apoio ao ritual e aos sacerdotes.

    Bem sobre a forma da circular da igreja vencedora é relativamente fácil de explicar pela configuração da praça existente, a colunata e a Basílica configuram uma composição barroca num espaço vázio público de forma semi-circular. De certa forma a nova igreja procura dialogar numa relação masculino-feminino com a Básilica, a igreja do Tombazis procurar encerrar ( na minha opinião sem o conseguir lá muito bem) o espaço publico da praça com um diálogo de forças geométricas.
    Por outro lado as formas cirulares puras podem remeter para uma imagem platónica de cosmos e universo, ou mesmo para uma certa tradição mais comum na igreja ortodoxa do que na Católica de igrejas de planta centrada; mas nessas igrejas a posição do altar não é no fim do pecurso mas sim no centro, como simbolo do centro do Universo.
    Mas a posição do altar foi mudando muito ao longo da história consoante a evolução dos rituais e do programa do papado.

    Mas sabes no final ganhou a obra mais prática de executar, a igreja do Tombazis é assim não me incomoda muito, este ano em Outubro quando ai estive já gostei mais dela do que na ultima vez, pois fui descubrindo pormenores e muito ainda falta por descubrir.
    No Santuário o edifício da capelinha é que me faz impressão podia ser mais interessante na minha opinião.

    Abraço
    Jorge

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  3. Bem-haja, Jorge,

    Já percebi... Estava a ver tudo de forma tão errada! Estas últimas imagens e as respectivas legendas facilitaram imenso a minha compreensão. Obrigada.

    Um abraço em Cristo!

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  4. Ainda bem que já deu para compreender assim. Gostava de estar dentro da tua cabeça para perceber o que estarias a ver antes destas imagens. Mas é normal que não tenhas percebido pois as fotos de maqueta dão essêncialmente para compreender os espaço exterior a imagem da planta que eu arranjei e foi a que vi sempre não é de fácil leitura, possui demasiada informação para o tamanho da imagem.
    Mas Assim com um esquema simples já deu para perceber fico contente.
    Abraço e A Deus

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